Nepal e o terramoto

Foi há um mês. Era 25 de abril e em Portugal discutia-se a relevância dos discursos oficiais – pouco revolucionários – na Assembleia da República. A mais de 8500 quilómetros daqui, a terra tremeu tanto que ainda hoje sentimos a dor dos abalos. Mais de oito mil mortos, centenas de milhares de desalojados, perdas irreparáveis no património arquitetónico e cultural do país do Evereste. Katmandu, a capital asiática hippie das décadas de 1960 e 1970, e o vale em seu redor quase desapareceram do mapa. Nos dias que se seguiram, lemos e ouvimos histórias de um punhado de portugueses que estavam de férias no Nepal quando o sismo de 7.8 na escala de Richter destruiu quase tudo. Não voltaram a casa, ficaram por lá. A ajudar. Sem nada em troca. São o exemplo extremado do turismo de voluntariado, uma realidade que toca cada vez mais gente em todo o mundo. Não é fácil largar tudo para ir ajudar os outros, mas estima-se que perto de dois milhões de pessoas o façam todos os anos. Vão construir e pintar escolas, dar aulas, trabalhar em orfanatos (de humanos ou de animais), ensinar os princípios básicos de economia familiar, trabalhar nos campos, seja o que for. Vão sem pensar duas vezes. E é fácil, basta querer. Há centenas de organizações que trabalham esta área – o turismo de voluntariado – em todos os continentes. É por quem ajuda e por quem é ajudado que neste mês voltamos ao Nepal e à África do Sul. Na Ásia olhamos para aquilo que se perdeu. Em África, concentramo-nos naquilo em que se transformou o país das lutas raciais. A mudança é possível, seja pelo exemplo de perdão de Nelson Mandela ou pela ajuda sem segundas intenções. Pura.

 

Ricardo Santos, editor
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Ricardo Santos, editor
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